Da forma como o mundo se estrutura no presente momento, existe uma tremenda valorização do imediato. As informações e conhecimentos fluem a velocidades cada vez mais rápidas, na velocidade da luz, e neste intervalo infinitesimal de tempo somos cobrados por constantes atualizações, por conhecer cada vez mais tudo o que ocorre agora. Certas vezes, somos cobrados até pelo que ainda vai ocorrer. São as influências das novas tecnologias de informação e conhecimento sobre as relações temporais do indivíduo com o restante da sociedade. Temos notícias que atravessam milhares de quilômetros na nossa mão, instantaneamente. Temos espaço livre e irrestrito para a expressão individual e coletiva. Temos um mundo globalmente conectado. Um mundo inteiro nas costas de cada um de nós.
Nesta nova perspectiva, apesar das óbvias vantagens de conectividade do mundo como um todo, de ganhos de tempo (o que pode ser muito questionado, uma vez que o tempo que ganhamos é cada vez mais tomado de nós), de redes de informações e conhecimentos, de comunicação, é importante reconhecer o problema de acompanhar tal velocidade e pensar no que está acontecendo. De fato, quando se segue o ritmo imposto pela nossa sociedade, não há tempo nenhum para parar. Como fica então o significado daquilo que acontece? Não temos tempo de formular princípios e pensamentos sobre aquilo que acontece, e somos guiados pelo contexto existente, como atores de um match de improvisação. A pressão do imediatismo nos consome pelo conhecimento do momento presente e, contraditoriamente, nos impede de vivê-lo. Nos deixamos levar.
Queremos rápido e queremos muito! E neste caso querer é poder... A abundância de conhecimento que podemos ver nos dias de hoje foge do nosso controle. Cada vez mais temos possibilidade de acesso a mais conhecimento, mais do que temos condições de manusear; e será que as pessoas acompanham essa evolução? O conhecimento evolui tão rápido que torna-se obsoleto rapidamente. De que adianta aprender algo que será inútil daqui a pouco tempo? De fato, entramos em uma nova geração de conhecimento, onde tê-lo não é mais suficiente, ou melhor, não chega nem a ser necessário. Saber como e onde encontrar as informações necessárias para cada situação mostra ser uma habilidade maior, uma habilidade decisiva para a sobrevivência. Lembrando dessa enchente que afasta a informação do nosso alcance.
A questão do conhecimento se mostra muito complexa nos dias de hoje. Temos muito conhecimento, mas o que fazer com ele? Temos pouco tempo para nos ocuparmos de buscar um significado para tudo isto. Temos poucas certezas, ou nos perdemos em meio a tantas outras. Tudo fica, certamente, mais incerto. Estamos, de fato, nos apropriando de algo, abrindo múltiplas possibilidades, ou somos meros consumidores sem significado, recombinando assim com assado?
O indivíduo, no entanto, é o principal responsável por toda essa (des?)organização do conhecimento. Tudo tem funcionado muito bem. As páginas que exigem colaboração em massa funcionam perfeitamente, e são consideravelmente mais confiáveis que muitas outras fontes de informação. Sem o indivíduo, não haveria formação de grupos e com isso nem as idéias iriam se conflitar. Antigamente, todos liam um livro e então liam comentários em alguma revista que criticava o livro. Hoje as colaborações acontecem instantaneamente, muitas vezes, sem nem a publicação das obras ainda ter ocorrido.
A principal conclusão que se pode tirar de tudo isto é que a questão do conhecimento tem que ser pensada, refletida e questionada. Não adianta achar que tudo já está certo. Em meio a tantas mudanças na própria natureza do conhecimento, não é raro que percamos o seu próprio sentido, que deixemos de perceber como ele vem se relacionando com as individualidades e grupos sociais. É mister promover a sua constante reinvenção, não apenas tecnológica e contextual, mas a reinvenção do seu próprio significado. Das formas de apropriação dele. Apropriação esta sobre algo que flúi sonicamente, como milhões de milhões de feixes de luz vivos orbitando espaços siderais. Como captar algo tão vasto, tão rápido, tão dinâmico?
Em resumo, devemos estar sempre atentos à questão do conhecimento e nas suas implicações sobre diversos aspectos de nossa sociedade. É importante realizar esta importante reflexão justamente para que o conhecimento não seja algo dinâmico apenas em velocidade de disseminação e comunicação, mas também em termos de evolução, carregado de significados. Um conhecimento que contribua para a formação de cidadãos. Para o crescimento intelectual e espiritual dos seres humanos. Um conhecimento em igual oportunidade para todos os seres sociais e que promova a construção de um mundo com justiça, liberdade e paz. O qual, por opinião própria, ainda estamos longe de alcançar.